Na sede da Mauricio de Sousa Produções em Campinas, uma das maiores empresas de conteúdo infantil do mundo opera como um relógio suíço — com sangue, mas sem favoritismos. Em entrevistas exclusivas divulgadas em 26 de outubro de 2025, os filhos do criador da Turma da Mônica revelaram como transformaram um negócio familiar em um modelo de governança profissional, com regras rígidas, consultores externos e até terapia familiar. O resultado? Uma receita de BRL 285,7 milhões em 2024, um crescimento de 19,3% em relação ao ano anterior, e uma avaliação de mercado de BRL 2,1 bilhões — quase o dobro desde 2020.
De pai para filho: uma transição planejada há 15 anos
Mauricio de Sousa Neto, de 48 anos, assumiu a presidência da MSP em 1º de janeiro de 2021, mas o planejamento para essa mudança começou em 2010, quando ele tinha 40. Com apoio da Deloitte Brasil, foram criados protocolos formais de sucessão — algo raro em empresas familiares brasileiras. "Não queríamos que o legado virasse um caos", disse Neto em entrevista. O próprio Mauricio de Sousa, aos 89 anos, deixou as decisões operacionais em 31 de dezembro de 2020. Hoje, atua como Chief Creative Officer, participando apenas das reuniões criativas de quintas-feiras às 14h, sem poder votar ou decidir.
"Eu não sou a filha do papai"
Mônica Sousa, de 49 anos, diretora criativa, é a alma artística da empresa. Entrou em 2001 como ilustradora júnior, fez mestrado em Artes Visuais na Universidade Estadual de Campinas e só foi promovida em 2010 — depois de 9 anos de trabalho. "Durante reuniões de conselho, sou Mônica Sousa, diretora criativa. Não sou a filha do fundador. Se eu errar, pago o preço. Se eu acertar, a empresa cresce.", afirmou ela em 25 de outubro de 2025. Essa postura não é exceção: todos os membros da família usam títulos profissionais, não laços de sangue. O mesmo vale para Marina Sousa, de 46, que lidera expansão internacional desde 2004. "Ninguém entra por herança. Entramos por mérito, e só depois de provar que somos capazes fora daqui.", disse ela.
Conselho com estrangeiros e terapia familiar
A governança da MSP é um caso de estudo. O conselho tem sete membros: três da família, dois externos — Ana Paula Silva, consultora da Silva Strategic Advisors, e Dr. Carlos Menezes, terapeuta familiar do Instituto Brasileiro de Terapia Familiar — e dois investidores independentes. As disputas internas, como a que ocorreu em 17 de março de 2025 sobre licenciamento de personagens, são resolvidas com mediação obrigatória. "Já tivemos brigas de verdade. Mas sem terapia, a empresa poderia se dividir.", conta Marina.
Internacionalização e o futuro da Turma da Mônica
78% da receita da MSP vem de fora do Brasil. Os EUA respondem por 42%, Portugal por 18% e o Japão por 12%. O lançamento global de Turma da Mônica: Universo Expandido, em 12 de junho de 2026, co-produzido com a Sony Pictures Animation, terá orçamento de USD 45 milhões — o maior da história da empresa. A previsão da Frost & Sullivan é de BRL 342,8 milhões em receita para 2025. E o próximo passo? Expansão para a Coreia do Sul, em janeiro de 2026.
Os herdeiros já têm regras rígidas
Os filhos de Neto e Mônica — Gabriel, 22, estudante de Wharton, e Isabella, 19, na Parsons — não vão herdar cargos. O protocolo familiar de 2023, ratificado em 11 de outubro daquele ano, exige: cinco anos de experiência externa antes de qualquer entrada na MSP. "Eles vão trabalhar em outras empresas, aprenderem com outros líderes, errarem fora daqui. Só então, se quiserem, podem vir.", explicou Marina. Além disso, todos os membros da família fazem treinamento obrigatório em Harvard Business School a cada três anos. A última turma foi em julho de 2025, com investimento de BRL 225 mil por pessoa.
Um modelo que inspira o Brasil
Segundo Ana Paula Silva, empresas familiares com governança formal têm 34% mais valor de mercado que as informais. A MSP passou de BRL 1,2 bilhão em 2020 para BRL 2,1 bilhões em 2025 — um salto que reflete não só o sucesso da Turma da Mônica, mas da estrutura que a sustenta. A expansão física da sede, concluída em 14 de fevereiro de 2025, com investimento de BRL 18,3 milhões pela Construtora Tenda, já abriga 350 funcionários. E 18,7% dos cargos gerenciais — 83 de 444 — são ocupados por não familiares, contra apenas 12,3% em 2020.
Frequently Asked Questions
Como a MSP evita conflitos entre membros da família no trabalho?
A empresa usa um sistema de governança formal com conselho independente, títulos profissionais obrigatórios e mediação obrigatória com terapeuta familiar. Disputas, como a de março de 2025 sobre licenciamento, são encaminhadas ao Dr. Carlos Menezes, que atua como mediador neutro. Além disso, todos os membros da família passam por treinamento em Harvard a cada três anos para fortalecer liderança sem viés emocional.
Por que a MSP tem tanta receita internacional?
A empresa investiu pesado em adaptação cultural e parcerias globais desde 2015. Personagens como Mônica e Cebolinha foram traduzidos com nuances locais, e licenças foram vendidas em mercados-chave como EUA, Japão e Portugal. Hoje, 78% da receita vem do exterior, com 42% só dos EUA — um feito raro para uma empresa brasileira de conteúdo infantil, que normalmente depende do mercado doméstico.
Quem são os investidores externos na MSP?
Dois investidores não familiares integram o conselho: Ricardo Galvão, da Brasil Capital Partners, e Patricia Lima, da Animax Ventures. Eles não participam da criação de conteúdo, mas ajudam na estratégia financeira e de expansão, especialmente na entrada em novos mercados como a Coreia do Sul, prevista para 2026.
O que mudou na MSP após a saída de Mauricio de Sousa das operações?
A empresa deixou de ser um império familiar e se tornou uma corporação com processos. A transição, concluída em 2020, permitiu a entrada de profissionais não familiares em cargos-chave — hoje, quase 20% dos gerentes não são parentes. Também houve aumento na eficiência operacional, na captação de investimentos e na valorização da marca, que saltou de BRL 1,2 bi para BRL 2,1 bi em cinco anos.
Como os netos de Mauricio de Sousa vão entrar na empresa?
Gabriel e Isabella, netos do fundador, precisam cumprir o Protocolo Familiar de 2023: cinco anos de experiência profissional fora da MSP, em empresas distintas, antes de qualquer possibilidade de ingresso. Mesmo assim, não garantem cargos. Eles devem passar por seleção igual aos demais candidatos — e só podem entrar por mérito, não por herança. A regra foi criada para evitar o declínio comum em negócios familiares.
A MSP tem planos de abrir capital?
Atualmente, não há planos de IPO. A família prefere manter o controle e investir em parcerias estratégicas, como a com a Sony Pictures Animation. A alta valorização e a receita crescente permitem financiar projetos sem precisar de ações públicas. A prioridade é manter a integridade criativa da marca, algo que seria arriscado em uma empresa cotada na bolsa.